quinta-feira, 3 de dezembro de 2009

Salesianidade - Umberto Eco e a lição aprendida de Dom Bosco

Salesianidade



Umberto Eco e a lição aprendida de Dom Bosco
31/5/2004


Umberto Eco é um não-crente.
Mas fala do oratório salesiano, a genial invenção de Dom Bosco depois exportada para a rede de paróquias e a Ação Católica. Uma resposta para o seu tempo e - por que não? - para o nosso
Umberto Eco, filósofo/semiólogo contemporâneo, é um “não-crente” de origem católica: veio da Ação Católica, da qual foi dirigente nacional, e se doutorou com uma tese sobre são Tomás de Aquino. “Se existe um Deus – revela – é o Deus de são Tomás de Aquino e com este é possível argumentar, estudamos sobre os mesmos livros”. Contudo, Eco declara não crer. “Ao contrário de tantos ex-católicos, não deixou a Igreja para se refugiar na sacristia de uma outra igreja, a do Partido... Continua um cão sem dono, ainda que sempre dentro das cercas de seu neo-iluminismo”, escreve Vittorio Messori. A partir de suas perspectivas particulares (racionais e sociais, talvez unilaterais mas seguramente não errôneas) olhou e enquadrou Dom Bosco:



"No início dos anos 60, a inteligência comunista tinha uma tendência a satanizar as comunicações de massa, em especial as técnicas para estudá-las, vistas como socializantes. É apenas a partir da metade dos anos 60 que o partido (comunista) elaborou uma estratégia da atenção (...). Mas, enquanto esta se desenvolvia, a situação dos mass media se transformava. Para além das diferenças ideológicas, acontecia aquilo que, de formas diversas, de Adorno a Marcuse e McLuhan, se tinha entrevisto: a sociedade das comunicações de massa não era mais caracterizada pela presença de alguns dinossauros (rádio, televisão, jornais, cinema), mas se pulverizava em uma série de comportamentos.

Hoje sabemos que também fazem parte das comunicações de massa o blue-jeans, a droga, o comércio de guitarras usadas, o modo de se reunir por grupos e bandeiras. Tornava-se então evidente que uma ação social e política na sociedade dos meios de massa não devia tanto (ou apenas) apontar para o controle dos grandes dinossauros, mas criar uma rede de base, cujo discurso político e educativo abordasse o uso e o consumo das grandes redes, o modo de viver na sociedade dos mass media.

A sua maneira, 68 e o que foi chamado de movimento, nascia como reconhecimento do fato que o problema não era tanto produzir outros dinossauros, mas tomar consciência da pulverização dos canais e constituir novos modos de usá-los, mudá-los, alterná-los, confundi-los. A isso visava até a utopia, que hoje faz alguns sorrirem, de um `novo modo de estar juntos´.

O movimento respondia a um vazio deixado por aquela que chamarei de `a grande revolução de Dom Bosco´. Dom Bosco a inventa, depois a exporta para a rede de paróquias e a Ação Católica, mas o núcleo está lá: quando este genial reformador entrevê que a sociedade industrial pede novos modos de agregação, primeiro juvenil e depois adulta, e inventa o oratório salesiano, uma máquina perfeita, no qual cada canal de comunicação – do jogo à música, do teatro à imprensa – é nele gerido sobre bases mínimas, e reutilizado e discutido quando a comunicação vem de fora (...). A genialidade do oratório é que esse prescreve aos seus freqüentadores um código moral e religioso, mas também acolhe quem não o segue. Em tal sentido, o projeto de Dom Bosco reveste toda a sociedade da era industrial (...).

À sociedade está faltando o seu `projeto Dom Bosco´, isto é, alguém ou algum grupo com a mesma imaginação sociológica, o mesmo senso dos tempos, a mesma inventividade organizativa. Fora deste quadro, nenhuma força ideológica pode elaborar uma política global das comunicações de massa, e deverá limitar-se à ocupação (freqüentemente inútil e muitas vezes danosa) dos vértices dos grandes dinossauros. Que contam cada vez menos do que se crê."




(publicado em L’Espresso, 15 de novembro de 1981)


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